Considerada, de acordo com a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, “em perigo crítico de extinção”, a Asphodelus bento-rainhae subsp. bento-rainhae, conhecida por abrótea-portuguesa, é um endemismo regional circunscrito à vertente norte da serra da Gardunha, em particular no subcoberto de castinçais e carvalhais e respetivas orlas arbustivas e herbáceas, mas também em áreas de pomar ou taludes e orlas de caminhos.

No entanto, devido à evolução no uso do solo, o seu habitat tem vindo a diminuir e a fragmentar-se, maioritariamente em resultado quer do aumento da área de cerejal sujeita à aplicação de herbicidas, quer dos incêndios recorrentes de grandes dimensões que potenciam a expansão de espécies invasoras e a reconversão dos bosques caducifólios em povoamentos florestais de pinheiro.

Nesta linha, ao longo dos últimos anos investigadores da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco têm vindo a levar a cabo diversos estudos sobre a conservação da biodiversidade das comunidades de abrótea da Gardunha, ao abrigo do programa integrado de investigação científica e desenvolvimento Cultivar, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pelo Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional, através do Programa Operacional Regional Centro 2020, Portugal 2020 e União Europeia.

É o caso da investigação realizada por Alice Maria Almeida, Fernanda Delgado, Natália Roque, Maria Margarida Ribeiro e Paulo Fernandez, transposta para o artigo “Multitemporal land use and cover analysis coupled with climatic change scenarios to protect the endangered taxon Asphodelus bento-rainhae subsp. bento-rainhae”, recentemente publicado na revista científica internacional Plants e que pode ser consultado em https://www.mdpi.com/2223-7747/12/16/2914.

Neste trabalho foram tidos em conta parâmetros como a área, a distribuição atual e o nível de abundância da subespécie lusitana da Asphodelus bento-rainhae, a que se somam a análise genética de populações ou as diversas formas de propagação.

Embora se preveja que a vegetação do Mediterrâneo venha a sofrer com as alterações climáticas, a equipa do IPCB constatou serem outros os fatores passíveis de contribuir para a extinção da abrótea no seu ambiente natural. E indica várias medidas para promover a sustentabilidade económica do cerejal, favorecendo em simultâneo a conservação e a gestão do habitat da planta em risco e da comunidade vegetal que a integra.

(créditos da imagem ao cimo: https://icultivar.pt

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