Desenvolver as suas próprias instalações artísticas foi o propósito da residência que os alunos da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB) realizaram entre 18 e 20 de maio na Fábrica da Criatividade.

Em simultâneo, e com o propósito de servir de referência aos estudantes de Vídeo Experimental, disciplina de terceiro ano da licenciatura em Design de Comunicação e Audiovisual, o auditório daquela unidade acolheu de novo a peça desenvolvida pelo respetivo docente, Miguel Ferreira, no âmbito do seu doutoramento em Media Artes na Universidade da Beira Interior.

Formada a partir de amostras dos testemunhos de quatro dezenas de habitantes de Idanha-a-Velha, a instalação de vídeo interativa “Fragmentos | Retrato Colectivo” reage à presença do público, acionando imagens e sons consoante a localização do visitante na sala. O resultado é um mosaico em constante mutação e de perceção variável, dada a projeção a diferentes profundidades. Dividida em três estágios e concebida a partir de uma residência artística naquela aldeia histórica com Luís Marques, também docente da ESART-IPCB e responsável pela trilha sonora, trata-se de “uma experiência sensorial e imersiva” que serve de metáfora ao processo de socialização com a comunidade local. “Podemos circular na instalação e nunca ter contacto com estas pessoas. Se nos aproximarmos apercebemo-nos de alguns fatores que as caracterizam”, culminando a abordagem num “rosto completamente formado no centro da peça”.

Transposta a interpretação da peça para o plano de trabalho dos estudantes, tratava-se de desenvolver “um projeto não para simples exibição em ecrã ou projeção em tela, mas adaptado a um local não controlado, com o qual pudesse interagir”. Definidos os conceitos a explorar – fragmentação e tempo –, e depois de semanas de contacto com o universo da videoarte, seguiram-se três dias de produção na Fábrica da Criatividade.  Divididos os 45 alunos em oito grupos, foi-lhes “atribuído um espaço onde pudessem editar vídeo, fotografia ou grafismos”. Findo o processo criativo, cada qual “teve uma abordagem diferente” e subtemas distintos, mas ante noções vagas “todas as interpretações são possíveis”. Em comum às intervenções, o recurso a software de mapeamento de vídeo e o repartir da projeção em múltiplas máscaras e planos.

No caso da equipa de Jorge Ribeiro, “representámos um ataque de ansiedade numa linha temporal, fragmentada em diversos ecrãs. É uma espécie de puzzle onde é difícil encontrar um início e um fim”. Para envolver o espetador, objetos das filmagens como um casaco ou garrafa “são parte do cenário”.
O grupo de Francisco Sousa liga a pop art ao modernismo, explicando o sentido desse movimento de rutura. “Na pós-revolução industrial a população e o consumo cresceram muito, mas os produtos também se tornaram visualmente agradáveis”. Nessa lógica, “criámos um guia de estilos e cores que segue uma narrativa e identidade coerentes para quem olha”. Imagens e figuras alusivas a marcas são assim “comparadas com a produção excessiva, que não é sustentável e causa muita poluição”.

Já a equipa de Viviana Mesquita escolheu como subtema a COVID-19. Imagens relacionadas com a pandemia ajustam-se à forma e proporção dos blocos de cimento da parede, enquanto que “no centro temos um contador que remete para os casos ativos em novembro de 2020, onde chegámos aos sete mil diários”. Um sobe e desce permanente ante as oscilações no número de infetados.

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